Uma das principais queixas que recebo dos pacientes atualmente, em consultório, é sobre a desatenção. Geralmente, os pacientes já pesquisaram sobre isso na internet, e já vêm à consulta acreditando que possam ter TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade).
TDAH de fato existe, não é uma “modinha”, como muitos acusam, e hoje em dia sabemos que esse transtorno acontece também no adulto. Até algum tempo atrás acreditava-se que o TDAH era uma patologia restrita à infância e adolescência e que desaparecia ou tornava-se irrelevante na vida adulta. Hoje sabe-se que, em muitos casos, os sintomas persistem durante a fase adulta do indivíduo, necessitando ainda de tratamento. Portanto, vão sim existir muitos adultos com esse diagnóstico, e hoje reconhecemos muito mais esse diagnóstico do que algumas décadas atrás, aumentando assim o número de casos identificados com o transtorno.
Porém, nem toda desatenção significa ter TDAH, muito longe disso. Precisamos compreender que transtornos psiquiátricos compartilham muitos sintomas entre si, portanto, um mesmo sintoma pode aparecer em vários transtornos diferentes. A desatenção é um clássico exemplo disso.
Na depressão, por exemplo, também acontece desatenção, o indivíduo deprimido sente muita dificuldade de focar, de se concentrar, de raciocinar, é como se o pensamento estivesse bloqueado, lento, “em branco”. Ele não consegue desempenhar bem seu trabalho, e até mesmo para atividades de lazer como assistir filmes, a concentração pode estar prejudicada.
Na ansiedade generalizada, a desatenção também aparece. Como o paciente está sempre preocupado, com o pensamento voltado para excesso de preocupações e catastrofizações, muito difíceis de serem controladas, ele sente também prejuízo importante na capacidade de se concentrar em tarefas, já que o foco do pensamento é constantemente desviado para essas preocupações excessivas.
Na hipomania, que é uma fase do transtorno bipolar, há uma aceleração do pensamento, tanto na quantidade de pensamentos, quanto na velocidade do pensamento, o que faz também com que o indivíduo torne-se altamente distraído e perca a capacidade de concentração.
Além disso, o uso de substâncias psicoativas como maconha e bebidas alcoólicas também prejudicam a atenção. Não podemos esquecer que alguns medicamentos, prescritos para algumas doenças médicas, podem também trazer prejuízos cognitivos, atrapalhando a atenção e a concentração.
Ainda, é importante frisar que o TDAH é ainda hoje considerado como um transtorno do neurodesenvolvimento. Isso significa que ele inicia-se na infância. Ou seja, se os problemas com desatenção do indivíduo somente começaram na vida adulta, praticamente está excluído o diagnóstico de TDAH, devendo ser investigado outros diagnósticos, como os mencionados acima. Então, para que seja, de fato, um caso de TDAH, o paciente terá tido impacto e prejuízo decorrente da desatenção já desde os primeiros anos de sua vida escolar, sendo que esses sintomas podem amenizar-se, ou não, durante a vida adulta.
Em muitos casos, é necessário complementarmos a investigação diagnóstica de TDAH com uma bateria de testes, que se chama testagem neuropsicológica. Esses testes são realizados por psicólogas especialistas em neuropsicologia, as quais aplicarão testes validados cientificamente, os quais vão avaliar de maneira quantitativa e qualitativa funções cognitivas como atenção, memória, inteligência, capacidade de planejamento, resolução de problemas, linguagem, raciocínio, entre outras. Essa testagem auxilia muito em casos de dúvida diagnóstica, portanto, é possível que seja solicitado que o paciente realize esse teste para termos mais certeza do seu diagnóstico.
Busque atendimento sempre especializado, e saiba que você será o maior beneficiado em ter um correto diagnóstico, pois a partir dele poderá ter acesso a um adequado e eficaz tratamento, e finalmente, o alívio de seus sintomas.